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Henrique Pontual | NUDE

Texto Crítico: Mário Margutti / Marcos Vinicius Vilaça

A reinvenção do corpo num poético teatro de sombras

 

"Nesta exposição, Henrique Pontual faz da fotografia uma autêntica expressão de arte contemporânea. Isto porque não é exatamente foto-grafia o que ele oferece aos olhos do público. Conforme as raízes etimológicas gregas da palavra, fotografia significa “escrita com a luz”. Entretanto, por causa da técnica experimental que utiliza, Henrique pratica muito mais o que se poderia chamar de esquiagrafia, ou seja, “uma escrita com sombra”.

Ele desenvolveu uma técnica pessoal de produção de imagens, que implica propositalmente numa poética do acaso, em experimentos que fazem aflorar a beleza do imprevisto.

As imagens têm uma suavidade visual tamanha que parecem desenhos feitos a lápis sobre uma superfície branca. Assim Henrique demonstra que é possível anular as fronteiras visuais entre a produção técnica de uma imagem fotográfica e a aparência de um desenho feito por mão humana.

A suavidade da nuvem de meios tons criada por esse processo de experimentação mostra que o artista opera na contramão da obviedade. O observador só descobre que está diante de um fragmento de corpo humano desnudo depois que convive com a obra, penetrando nos seus indícios e na sutileza do seu universo imagético. Quando finalmente a imagem se torna reconhecível, e descobrimos que se trata de parte da anatomia de um corpo humano, a foto então se reveste do seu caráter icônico, de retrato do real.

Num terceiro momento, a imagem se torna símbolo: entram em cena fatores culturais, conceitos e preconceitos, leituras subjetivas de cada indivíduo. Podemos falar então de erotismo, de pureza ou de carnalidade pagã.              

O corpo nu é tema recorrente dos artistas de todos os tempos e se fez objeto de polêmica conforme a moral de cada época. Na Renascença, a nudez era positiva. Basta relembrar aqui o célebre quadro de Tiziano pintado em 1515, intitulado Amor sacro e amor profano, que nos mostra duas jovens, uma vestida como noiva e outra desnuda. Pois é justamente a donzela nua que representa o amor divinizado, sem mácula. Porque, para os renascentistas, a beleza do corpo sem qualquer adorno era maior que a do corpo adornado. A nudez sem máscaras sociais é e será sempre sinônimo de pureza. Somente o olhar moralista, preconceituoso, pode considerar pecaminoso um corpo despido.

Com seu poético teatro de sombras, Henrique Pontual nos propõe uma autoanálise coletiva sobre a nudez, quebrando os paradigmas da moralidade hipócrita, que é substituída por um olhar amoroso e penetrante, que revela nossas luzes internas através de sombras corporais externas.

O artista nos solicita um amadurecimento gradual do ato de contemplar e de mergulhar nas imagens que ele produz tão obsessivamente apaixonado. Ele nos pede um olhar livre, desarmado, um olhar também nu, na coragem do ato de ver..."

Mário Margutti.

Maio de 2013

"Henrique Pontual me pede um impossível: que apresente seus últimos trabalhos.  Como eu? Só há uns poucos anos é que fui advertido pelo meu filho – Marcantonio Vilaça – da real força artística da fotografia.  E para provar, deu-me obras de Miguel do Rio Branco e Mário Cravo. Antes, na verdade, já eu era seduzido por Benício Whatley Dias, Salgado, Edmond Dansot, Robson Maestrelli, Marcos Rodrigues, Pedro Vasquez, Verger e cuidei de dar forma ao Núcleo de Fotografia da FUNARTE.

Enfim, o que posso dizer

Sou um já antigo admirador do bom gosto em Pontual. Tudo que faz é bem feito. Aliás, quase uma marca dessa família bem pernambucana, onde, entre tantos destaques, anoto o do pediatra e humanista Samuel Pontual.

Impressionei-me com as fotos, talvez-fotos, quase-fotos, pré-fotos, pós-fotos pois é assim que vi a captação do principal sem perda dos acessórios. Diz quase sem dizer, diz tudo com o aparentemente pouco.  É como um texto limpo, de adjetivação necessariamente mínima.
Bom de ver nas intrafaces e nas interfaces.
Lembrei-me de Drummond a falar das coisas tangíveis, insensíveis à palma da mão, de coisas findas muito mais que lindas, coisas que ficarão.

Gostei muito. E ponto final."
 
Marcos Vinicios Vilaça – da Academia
Brasileira de Letras foi Presidente da
FUNARTE.

 

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