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Ricardo Becker | Cisco Você Não Vê

Curadoria e Texto Crítico: Fernando Cocchiarale

Cisco Você Não Vê, mas sente

 

A exposição “Cisco Você Não Vê,” de Ricardo Becker, dá continuidade ao “Projeto Cisco” apresentado na Casa de Cultura Laura Alvim no primeiro semestre deste ano. São títulos sugestivos. Parecem-nos alertar contra algo que compromete o olhar, ainda que temporariamente. Fragmentos de poeira talvez sejam das poucas maneiras que temos de ver o vento – ainda que por meio de seu efeito mais incômodo, posto que comprometem, a partir de uma experiência tátil (cisco), a visão que negativamente evocam.

 

Visualizar o (invisível) de maneira poética, tornou-se uma questão do trabalho recente de Ricardo. O olhar humano não vê diretamente o vento (ou o ar), mas este pode ser sentido pelo tato (seu contato com a pele ou com o globo ocular). Portanto a visualização do ar em movimento depende de seus efeitos em outros objetos (árvores, água, cabelos, roupas, guarda-chuvas, etc.); é percebida por meio de indícios.

 

Essa percepção oblíqua, indicial, do invisível tem mobilizado a atenção poética e a produção do artista. Seus mais novos resultados investigam (a partir de meios diversos) possibilidades poéticas situadas no campo indicial / icônico da visualidade.   Becker desdobra aqui sua invenção em construções feitas a partir de índices naturais ─ trabalhos feitos com bonsais vergados pela incidência real do vento, mostrados solitária o ou na mesa maquete vergada que contém uma paisagem de bonsais também vergados na mesma direção; ou o desenho feito com musgo enquadrado e emoldurado ─; de elementos processados e inventados pelo homem tais como o talco e espelho (que de um ponto de vista simbólico São alusivos, respectivamente, à poeira/cisco e ao olhar); Finalmente duas obras  icônicas: um vídeo em P&B registra os efeitos do vento na vegetação de uma montanha e nas nuvens que se movem sobre ela e uma outra resultante de um espelho que se move (graças a um motor) distorcendo a fisionomia de quem o fita.

 

Para Ricardo Becker cisco você não vê, mas sente. Por isso é bom que não se perca de vista que os únicos ciscos da experiência visual são aqueles formados por sentimentos e hábitos artísticos acomodados ao senso comum. 

 

Fernando Cocchiarale

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